Sarcopenia em foco

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A sarcopenia é definida como um distúrbio progressivo e generalizado do músculo esquelético, que comumente ocorre com o avanço da idade e que está associado a uma série de efeitos adversos à saúde, incluindo mobilidade prejudicada, aumento do risco de quedas e fraturas, comprometimento da capacidade funcional, hospitalizações e morte.1

 

Referência:

1.Sayer AA, Cruz-Jentoft A. Sarcopenia definition, diagnosis and treatment: consensus is growing. Age Ageing. 2022 Oct 6;51(10):afac220.

Sua prevalência tem grande variação dependendo da faixa etária, sexo, cenário clínico e definição utilizada. Porém, em indivíduos com idade entre 60 e 70 anos, varia de 5% a 13%, enquanto entre os com mais de 80 anos pode oscilar de 11% a 50%.2 Já entre os idosos institucionalizados, é de 51% e 31% em homens e mulheres, respectivamente.3 Apesar de ser reconhecida como uma doença muscular desde 2016, seu diagnóstico raramente é feito ou documentado nos prontuários médicos.4 Em uma recente pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), cerca de 30% dos médicos não especialistas em geriatria declararam que não sabem fazer o diagnóstico da sarcopenia.5 A investigação neste campo aumentou exponencialmente nos últimos anos, demonstrando que a doença é preditiva de resultados e responsiva ao tratamento. No entanto, esse crescimento ainda não se traduz, na maioria dos casos, em melhores cuidados aos pacientes.1

 

Tendo isso em vista, com o intuito de auxiliar no diagnóstico e tratamento da sarcopenia, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG, com apoio da Danone, desenvolveu o Manual “Recomendações para Diagnóstico e Tratamento da Sarcopenia no Brasil”. A seguir, trazemos um resumo do manual, que tem se mostrado uma importante ferramenta para o diagnóstico precoce e correto tratamento da doença.

 

Principais Causas de Sarcopenia               

A sarcopenia é uma doença muscular reconhecida com código de diagnóstico no CID-10 e arraigada em mudanças musculares acumuladas ao longo da vida.6 É considerada primária ou relacionada à idade quando nenhuma outra causa específica é evidenciada, e secundária quando outros fatores causais, que não o envelhecimento, são evidentes.7,8

 

Primária7,8

• Idade: perda de massa e força muscular relacionada à idade. 7,8

Secundária7,8

• Malnutrição: Baixa ingesta energética e/ou proteica; Deficiência de micronutrientes; Má-absorção e outras condições gastrointestinais; Anorexia (envelhecimento e problemas orais).

• Inatividade7,8: Repouso no leito, imobilidade, descondicionamento; Sedentarismo e baixo nível de atividade física.

• Iatrogenia7,8: Hospitalização; Uso de medicamentos

• Doenças7,8:  Cardiorrespiratórias; Oncológicas; Neurológicas; Endocrinometabólicas; Osteoarticulares; Hepáticas; Renais.

 

Diagnóstico

Em 2019, o European Working Group on Sarcopenia in Older People 2 (EWGSOP2) revisou seu consenso atualizando a definição e o algoritmo para o diagnóstico de sarcopenia. A atualização incorporou um raciocínio que visa “encontrar, avaliar, confirmar e estabelecer a gravidade dos casos”, com o objetivo de facilitar seu uso em contextos clínicos.8

 

Realizando todas as etapas do algoritmo, é possível diagnosticar:8

• Provável sarcopenia

• Sarcopenia instalada

• Sarcopenia grave

 

A partir do diagnóstico de uma provável sarcopenia, é possível desencadear uma avaliação das causas, bem como as intervenções necessárias, que devem começar o mais precocemente possível.8

 

Exercício resistido e Sarcopenia

A realização de um treinamento progressivo de exercícios resistidos é o que temos com maior nível de evidência científica para melhorar a massa, a força muscular e o desempenho físico. Por isso, um programa deve ser incentivado. Para definir a carga do treinamento, deve-se realizar o teste de 1 repetição máxima (1RM), que precisa ser realizado em cada um dos grupos musculares que serão treinados.9-11

 

Abordagem nutricional da Sarcopenia

O processo de envelhecimento pode contribuir para a redução da ingestão alimentar, gerando queda no aporte proteico e calórico, associado a modificações no padrão alimentar, o que pode favorecer o declínio da massa muscular e instalação da sarcopenia.12 Dessa forma, é importante uma avaliação dietética abrangente para a identificação precoce de deficiências nutricionais.

A recomendação diária de consumo proteico para um idoso saudável no intuito de evitar a sarcopenia varia de 1,0 e 1,2 g/kg/dia.13,14 Nos casos de tratamento, recomenda-se o consumo de 1,2 a 1,5 g/kg/dia. 13,14 Dependendo da condição clínica, esse valor precisa ser ajustado. Além disso, tanto na prevenção como no tratamento, além da quantidade ingerida, outro ponto fundamental é a distribuição diária do consumo proteico. A recomendação é que se alcance 25 a 30 gramas em cada uma das três principais refeições.13

 

Suplementação

A suplementação nutricional é indicada nos casos em que a ingestão calórica seja menor que 70% das necessidades diárias. Para idosos com desnutricão ou em risco de desnutrição deve-se fornecer pelo menos 400 kcal/dia, incluindo 30 g ou mais de proteína/dia.14

Vale ressaltar que a combinação de suplementação com exercícios resistidos pode conferir ainda mais benefícios ao tratamento da sarcopenia. Uma recente metanálise mostrou que indivíduos que realizaram exercício resistido e suplementação nutricional oral em conjunto apresentaram melhores resultados na massa magra total, na massa muscular esquelética apendicular (MMEA), na força de membros inferiores e na deambulação quando comparados a outros que utilizaram placebo como suplemento ou que realizaram somente suplementação nutricional oral.15

 

Disbiose

O envelhecimento está associado à redução da biodiversidade da microbiota, aumento da variabilidade interindividual e de patógenos oportunistas. Esses fenômenos podem ter grande relevância para a massa e a função do músculo esquelético.

A disbiose da microbiota intestinal associada à idade aumenta a permeabilidade intestinal, promove inflamação e disfunção dos macrófagos com possível impacto negativo na síntese muscular. Esse desequilíbrio pode promover a expressão gênica do hospedeiro, ativando a resposta inflamatória e induzindo a desregulação do sistema imunológico. Além disso, pode interferir nos efeitos anabólicos de alguns nutrientes nas células musculares.16,17

 

Tratamento medicamentoso da Sarcopenia

As evidências científicas atuais são insuficientes para recomendar o uso de medicamentos para o tratamento de primeira linha da sarcopenia.18 A reposição de vitamina D em idosos com baixos níveis séricos deve ser realizada de acordo com o julgamento clínico, levando-se em consideração outras condições associadas que podem se beneficiar com essa reposição.18

Outras terapias têm resultados controversos ou evidências insuficientes para recomendação, embora seja inconteste seu envolvimento na etiologia da sarcopenia, tais como: insulina, estrógeno, testosterona, desidroepiandrosterona (DHEA), hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) e paratormônio (PTH).8,18,19

 

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Referências

1. Sayer AA, Cruz-Jentoft A. Sarcopenia definition, diagnosis and treatment: consensus is growing. Age Ageing. 2022 Oct 6;51(10):afac220.

2. Morley JE, Anker SD, von Haehling S. Prevalence, incidence, and clinical impact of sarcopenia: facts, numbers, and epidemiology-update 2014 [published correction appears in J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2015 Jun;6(2):192]. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2014;5(4):253-259.

3. Papadopoulou SK, Tsintavis P, Potsaki P, Papandreou D. Differences in the Prevalence of Sarcopenia in Community-Dwelling, Nursing Home and Hospitalized Individuals. A Systematic Review and Meta-Analysis. J Nutr Health Aging. 2020;24(1):83-90.

4. Avgerinou C. Sarcopenia: why it matters in general practice. Br J Gen Pract. 2020 Mar 26;70(693):200-201.

5. Campanha Sarcopenia. Pesquisa DANONE/SBGG, 2021.

6. Morley JE, Anker SD, von Haehling S. Prevalence, incidence, and clinical impact of sarcopenia: facts, numbers, and epidemiology-update 2014 [published correction appears in J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2015 Jun;6(2):192]. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2014;5(4):253-259.

7. Cruz-Jentoft AJ, Sayer AA. Sarcopenia. Lancet 2019; Jun 29; 393(10191): 2636-2646.

8. Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, Boirie Y, Bruyère O et al. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. 2019 Jan 1;48(1):16-31 Erratum in: Age Ageing. 2019 Jul 1;48(4):601.

9. Csapo R, Alegre LM. Effects of resistance training with moderate vs heavy loads on muscle mass and strength in the elderly: A meta-analysis. Scand J Med Sci Sports. 2016 Sep;26(9):995-1006.

10. Bao W, Sun Y, Zhang T, Zou L, Wu X et al. Exercise Programs for Muscle Mass, Muscle Strength and Physical Performance in Older Adults with Sarcopenia: A Systematic Review and Meta-Analysis. Aging Dis. 2020 Jul 23;11(4):863-873.

11. Zhang Y, Zou L, Chen ST, Bae JH, Kim DY et al. Effects and Moderators of Exercise on Sarcopenic Components in Sarcopenic Elderly: A Systematic Review and Meta-Analysis. Front Med (Lausanne). 2021 May 19;8:649748.

12. Morley JE, Argiles JM, Evans WJ et al. Nutritional recommendations for the management of sarcopenia. J Am Med Dir Assoc. 2010;11(6):391-396.

13. Bauer J, Biolo G, Cederholm T, Cesari M, Cruz-Jentoft A J et al. Evidence-based recommendations for optimal dietary protein intake in older people: A position paper from the PROT-AGE Study Group. J. Am. Med. Dir. Assoc. 2013;14:542–559.

14. Volkert D, Beck AB,Cederholm T, Cruz-Jentoft A, Goisser S et al. ESPEN guideline on clinical nutrition and hydration in geriatrics,Clin Nutrition. 2019;38(1):10-47.

15. Liao CD, Chen HC, Huang SW, Liou TH. The Role of Muscle Mass Gain Following Protein Supplementation Plus Exercise Therapy in Older Adults with Sarcopenia and Frailty Risks: A Systematic Review and Meta-Regression Analysis of Randomized Trials. Nutrients. 2019 Jul 25;11(8):1713.

16. Ticinesi A, Tana C, Nouvenne A. The intestinal microbiome and its relevance for functionality in older persons. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2019 Jan;22(1):4-12.

17. Zhang J, Yu Y, Wang J. Protein Nutritional Support: The Classical and Potential New Mechanisms in the Prevention and Therapy of Sarcopenia. J Agric Food Chem. 2020 Apr 8;68(14):4098-4108.

18. Dent E, Morley JE, Cruz-Jentoft AJ, Arai H, Kritchevsky SB et al. International Clinical Practice Guidelines for Sarcopenia (ICFSR): Screening, Diagnosis and Management. J Nutr Health Aging. 2018;22(10):1148-1161.

19. Feike, Y, Zhijie, L, Wei, C. Advances in research on pharmacotherapy of sarcopenia. AgingMed.2021; 4: 221– 233.

 

Conteúdo técnico-científico destinado a profissionais de saúde. Proibida a reprodução total e/ou parcial.

 

 

05/07/2024

 

 

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